
Dizem que é genético, a depressão.
E o que importa se é ou não?
Minora? abranda? Suaviza? Resolve?
Teorizam e ganham dinheiro prá isso,
inventam remédios que já tomei,
discursos que já ouvi...
Descubro hoje que há um tempo
em que vemos a depressão,
outrora sentida, ressentida, doída:
É na maturidade, onde até
a própria depressão amadurece
e prepara-se como um sacerdote
a professar os ritos, as orações,
os gestos...
Repete-se cruel e impiedosa,
pois já não vemos no espelho
o futuro que desconhecemos,
ainda travestido de esperança.
Nua e crua, senta-se na melhor cadeira,
deita-se na rede,
dorme na cama,
toma o café da manhã
e anoitece...