14 de ago. de 2011

PAPAI

ANTONIO IGNACIO NUNES, meu pai.

Minha caixas de fotos ainda estão guardadas 
esperando minha nova mudança de casa. 
Queria muito encontrar as fotos que herdei de minha avó paterna, 
as fotos que ele enviava durante a guerra para apaziguar 
o coração desesperado dos pais, meus avós.
Tive a sorte de encontrar essa foto, de 1944, em plena guerra,
num álbum 
que ele confeccionou com minha mãe e 
que continha esse flagrante alegre de homem apaixonado 
pelos animais, 
a melhor herança que me deixou, 
esse amor e carinho com os bichos. 
Quanto mais envelheço, mais semelhança física 
tenho com minha mãe, 
mas por dentro, sou o que ele ensinou, 
o melhor de mim, a alegria de viver, o respeito à natureza, 
o respeito pelo próximo e 
sobretudo, amor a arte, literatura, cinema, música, 
a vontade de viver e ser feliz.
Sou a mais órfã de pai que conheço. 
Ele era o meu sangue, meu amigo, meu confidente (sempre), apoiador, estimulador, 
meu colo, a mão abençoada sobre os meus cabelos 
quando estava triste. 
Guiou meu coração, meus passos, 
ensinou-me a plantar, tanto na terra quanto no futuro. 
Educou meu filho, talhou nele grande parte de seu caráter 
e objetividade, simpatia e senso de humanidade.
São meus dois contrapontos, meu pai e meu filho, 
passado e presente,
cada um em um prato da balança de meu equilíbrio 
moral e espiritual.
Na gola de sua farda tinha um canhão de cada lado 
e a letra E, de estrategista, 
hoje guardo comigo os diplomas e medalhas de guerra 
que auferiu por oferecer a própria vida 
em defesa do Brasil que tanto amava. 
Ele dizia que dos filhos que tinha, 
eu era o que mais parecia com ele e hoje eu concordo, 
minha estrada percorrida  pela vida mostra isso.
Nasci com olhos sãos, ele me ensinou a enxergar,
os ouvidos sadios, ele me ensinou a ouvir,
com a voz para cantar, ele me ensinou a calar,
com pernas fortes, ele me ensinou a caminhar na direção certa.
Ele me deu uma alma livre, me deu amor, aconchego, 
proteção, segurança e fé.
Hoje ele é o buraco mais profundo que a saudade pode cavar 
no coração e na vida de alguém, 
na minha vida.

*

Dia dos pais,,domingo, 14 de Agosto de 2011.